O Senegal apareceu recentemente no radar das empresas portuguesas. O país é um ponto estratégico de entrada na região da África Ocidental e integrou, em 2019, o grupo restrito das dez economias africanas que registaram melhor desempenho. Nos quatro últimos anos anteriores ao início da pandemia, teve uma taxa média de crescimento de 6% e tem um PIB de 23 354 milhões de euros.
Conhecida é, também, a sua estabilidade política e social, ao mesmo tempo que existe um ambiente de negócios favorável ao investimento e ao estabelecimento de parcerias empresariais.
Neste retrato, destacam-se ainda outros fatores cruciais que podem constituir uma importante alavanca de negócio para as companhias lusas no Senegal. Entre eles, tal como explica ao Dinheiro Vivo a Agência para o Investimento e Comércio Externo (AICEP), "a proximidade a Portugal, uma vez que Lisboa é a capital europeia mais próxima de Dakar, mas também o facto de mais de 45 mil senegaleses falarem a língua portuguesa". Segundo a agência para o investimento, há ainda outras vantagens a ser apontadas ao Senegal, incluindo "ser porta de entrada no mercado da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), com mais de 300 milhões de consumidores e a estabilidade cambial, com o franco CFA a gozar de paridade fixa face ao euro".
Todas estas razões levaram a AICEP a abrir escritório em Dakar em 2019, avançando Tiago Bastos como diretor. A justificação prende-se com a certeza de o Senegal ser um país com potencialidades de negócios para as empresas portuguesas, que cada vez mais procuram fazer negócios e investir para além dos seus mercados de exportação tradicionais. Até há pouco, era um mercado desconhecido e pouco explorado pelos portugueses, que privilegiavam as antigas colónias no continente africano. Mas o certo é que as duas capitais ficam a apenas quatro horas de viagem aérea, o que facilita as deslocações dos empresários.
Além de que Dakar é o maior centro económico do país, onde estão 80% das empresas, vive 23% da população total e 50% da população urbana.
O Plano Emergente Senegal pode potenciar essas mais-valias. Apresentado em 2014, reúne um conjunto de políticas estratégicas para desenvolver o país, que conta com 17 milhões de habitantes, num hub logístico, industrial, mineiro, aéreo e turístico.
Até 2035, o país quer tornar-se mais competitivo e integrar o grupo dos emergentes, com o objetivo de ser um centro económico em África, e em particular na Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, mercado com mais de 300 milhões de habitantes.
"É precisamente na área das infraestruturas que poderá residir uma oportunidade para as empresas portuguesas, dado que as obras e restantes projetos infraestruturais (construção rodoviária, saneamento, eletrificação das áreas rurais, energias renováveis) têm vindo a beneficiar de grandes fluxos de investimento estrangeiro e constituem uma das grandes apostas do governo", explica a agência para o investimento e comércio externo. E já há companhias portuguesas bem implementadas e presentes em importantes obras do país, como é o caso da Camacho Senegal, com sede em Guimarães, que tem feito várias redes de abastecimento e perímetros hidroagrícolas em zonas distintas do território senegalês. Também a NRV/ Norvia, com sede em Vila Real, conta com uma estrutura local no Senegal. Realizou, por exemplo, o estudo de viabilidade para a autoestrada de quase 100 quilómetros entre Mbour e Kaolak.
Para além da área das infraestruturas, existem muitos outros setores recetivos à entrada de investimento estrangeiro. Entre eles, "a agricultura, o setor portuário, o turismo, as pescas, as minas, da aquacultura, as TIC e da saúde. No setor agroalimentar e de distribuição, salienta-se também a emergência de um mercado formal, muito competitivo", sublinha a AICEP.
O governo senegalês aposta também na qualificação dos recursos humanos, havendo também oportunidades ao nível da construção e recuperação de edifícios de universidades, do fornecimento de equipamentos para estes estabelecimentos de ensino, bem como a cooperação científica e tecnológica.
Parece evidente que a exploração de petróleo e gás prevista para 2023 terá um impacto transversal na economia do Senegal, com uma previsão de crescimento económico a dois dígitos, impulsionado pelo aumento das exportações. Espera-se também que a diminuição do preço da energia provoque um aumento da capacidade de produção industrial.
A existência destes recursos naturais gerou grandes expectativas. "Sabemos que os países que têm petróleo têm conflitos, mas nós queremos paz e queremos ser transparentes", afirmou El Hadji Omar Youm, presidente do grupo parlamentar senegalês, durante um encontro em Dakar promovido pela alemã Friedrich Naumann Foundation (FNF), no qual esteve presente o Dinheiro Vivo. O que mais preocupa os dirigentes senegaleses é a partilha dos resultados da exploração. "Vamos reservar 10% dos lucros para investir nas gerações futuras", sublinhou Omar Youm.
O principal depósito de gás descoberto no país é o Greater Tortue Ahmeyim e encontra-se na plataforma costeira entre a Mauritânia e o Senegal. A reserva ascende a 425 000 milhões de metros cúbicos de gás e o governo senegalês espera extrair 2,5 milhões de toneladas de gás no primeiro ano da sua exploração. A partir de 2030, poderá chegar-se até aos dez milhões de toneladas de gás por ano. Mas para isso o país presidido por Macky Sall vai precisar de parceiros.
A longo prazo, o Senegal quer cobrir 30% das suas necessidades de eletricidade com energias renováveis "e o gás vai ajudar a reduzir o preço para o país ser mais competitivo", acrescenta o presidente do grupo parlamentar. Desta forma, espera-se também favorecer a industrialização do país - o que abre mais uma oportunidade de negócio para as empresas estrangeiras, incluindo as portuguesas.
O Senegal conta com o apoio da comunidade internacional e está a ser acompanhado por diversas instituições que procuram garantir um crescimento económico baseado nos valores democráticos. "Na FNF, trabalhamos para construir mecanismos de integração económica regional, reforçando o comércio livre e as cadeias de abastecimento que contribuem para a criação de emprego e para a proteção dos direitos humanos", explica ao Dinheiro Vivo David Henneberger, diretor do escritório da FNF para Portugal, Itália, Espanha e o Diálogo Mediterrânico.
Outra vertente do trabalho desenvolvido é a promoção da inovação técnica e o fomento do empreendedorismo, especialmente nas mulheres. "Isso contribui para a sua integração nos mercados de trabalho locais, definindo o futuro e a prosperidade económica, criando alternativas que permitam reduzir a fuga de cérebros dos países de origem."
Segundo o Comtrade, as exportações do Senegal registaram um valor de 5203 milhões de dólares em 2021 e 3931 milhões um ano antes. Os cinco principais grupos de produtos exportados foram os agrícolas, os combustíveis minerais, os produtos químicos, os minerais e minérios e os produtos alimentares. Mali, Suíça, Índia, China e Costa de Marfim foram os cinco principais mercados clientes, representando 55,1 % do valor total das exportações.
No caso de Portugal, no ano passado exportaram para o Senegal 237 empresas portuguesas de diversos setores, nomeadamente manutenção naval, setor automóvel, construção, engenharias, metalomecânica, veículos de serviço, entre outros. "O envolvimento de empresas portuguesas em grandes projetos nacionais é considerável, com impacto direto no desenvolvimento económico do país. Ainda assim, acreditamos que existe um longo caminho a percorrer", sublinha a AICEP.
Segundo o INE, o Senegal foi o 65.o cliente das exportações portuguesas de bens em 2021, com uma quota de 0,1%, ocupando a 88.ª posição ao nível das importações (0,02%). A balança comercial de bens foi favorável ao nosso país, tendo apresentado um excedente de 28 milhões de euros em 2021.
Para Portugal, o Senegal vende sobretudo metais comuns, produtos alimentares, máquinas e aparelhos, plásticos e borracha e minerais e minérios. Pelo contrário, os principais grupos de produtos nacionais que chegam a Dakar são os agrícolas, os têxteis, máquinas e aparelhos, veículos e materiais de transporte e madeira e cortiça.
FONTE: Dinheiro Vivo
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